Sorte, azar e justiça divina

4 05 2007

Na televisão contavam a história de um indivíduo que gostava de tentar a sorte. Não há nisso nada de anormal. Muita gente o faz, pensou M. Hermann enquanto assentava uma chave: 23 – 45 – 34 – 12 – 7 – 11 – 40. O homem jogava regularmente na lotaria utilizando um sistema matemático altamente aleatório que seleccionava os números que deveria de usar dentro de uma lógica irracional, a que se chama intuição. Construíra para isso uma máquina complicadíssima, única no mundo, que ao contrário das suas irmãs mecânicas possuía instinto. O homem baseava o seu procedimento na convicção de que como deus não joga aos dados, ele o poderia bater num terreno que não era o seu. Uma vez que se tratava do chão pantanoso da sorte e como se sabe essa não é uma matéria que interesse a deus pois todos os seus desígnios, mesmo os mais misteriosos, têm na sua génese uma necessidade própria e isenta de acaso. Após várias tentativas, o homem acabou por ganhar o primeiro prémio da lotaria nacional. Por sorte, disseram na altura. No entanto, quando foi feito o sorteio em que ele saiu como vencedor o homem estava morto pois falecera durante a noite de causa desconhecida mas nem por isso menos letal. M. Hermann desligou a televisão e pensou: deus pode não jogar aos dados mas equilibra isso com justiça divina.


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